domingo, 26 de outubro de 2008

VITORIOSOS E VENCEDORES

Como não poderia deixar de ser, aproveito o espaço para comentar o resultado da eleição aqui no Rio de Janeiro. Não vou comentar os resultados de São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre, pois os números finais foram absolutamente previsíveis.
Antes de qualquer coisa, vale ressaltar que, não sou cartomante nem pai-de-santo, mas fiz a previsão exata do que ia acontecer na eleição da Cidade Maravilhosa. Nenhum Cientista Político teve coragem de prever o que iria se passar no Rio de Janeiro. Eu falei! Eu disse que Gabeira bateria Crivella na última semana do primeiro turno, disse que Gabeira entraria no segundo turno em vantagem, disse que os candidatos do primeiro turno se juntariam a Paes, disse que iria ser usado todo tipo de baixaria contra Gabeira e, finalmente, disse que ele seria ultrapassado na última semana da campanha, mas a derrota nas urnas se daria por um percentual mínimo. Portanto, não perca seu dinheiro com profetas, pais-de-santo, cartomantes, tarólogos, astrólogos ou ciganas. Pergunte para o "Mestre Daniel"!!!
Dito isto, analiso o resultado final da seguinte forma: o vencedor da eleição foi Eduardo Paes, mas o vitorioso foi Fernando Gabeira. Vencedor e votorioso são conceitos absolutamente distintos. Paes venceu porque soube utilizar toda a máquina da qual dispunha. Ele foi capaz de atrair os candidatos derrotados no primeiro turno e formar um "blocão" anti-gabeira. O peemedebista foi beneficiado por inúmeras campanhas paralelas que agrediam diretamente o adversário. Além disso, Paes soube formular propostas concretas durante a campanha e não ficou só no plano das idéias, como Gabeira. O agora prefeito eleito sabe muito bem que a maior parte da população ainda se deixa convencer pelas propostas megalomaníacas que parecem resolver todos os problemas da população mas não saem do papel. Sem fazer qualquer juízo de valor, parabéns para Eduardo Paes por essa percepção e nada mais.
Fernando Gabeira foi o verdadeiro vitorioso! O candidato não fez promessas de campanha, não sujou a cidade com material eleitoral, não atacou adversários e derrubou verdadeiros gigantes no primeiro turno. Gabeira mostrou ao povo brasileiro que é possível fazer campanha em alto nível e trazer mais idéias e menos promessas vazias para o debate político. Ele foi atacado de maneira covarde com folhetos apócrifos, agressões diversas e - sobretudo - uma atuação irresponsável da mídia, que lhe roubou frases soltas durante uma conversa telefônica e o transformou num homem preconceituoso. Fernando Gabeira teve 49 por cento dos votos e ficou a apenas cerca de 50 mil votos de Paes. Além disso, ele foi o vencedor entre o eleitorado mais jovem, o que me enche de esperanças em relação ao futuro de nosso país. Explico: os jovens de hoje, serão a maioria do eleitorado nas próximas eleições e, os jovens de amanhã, terão crescido influenciados pelos jovens de hoje. Em linhas gerais, é possível perceber uma geração bem mais conscientizada avançando rapidamente na vida política do país. Isso me dá a absoluta convicção de que a renovação do eleitorado (não só no Rio, mas em todo o Brasil) vai se fazer sentir já nas próximas eleições, em 2010. Aí eu pago prá ver algum candidato ganhar uma eleição na base do folheto apócrifo e da baixaria - como testemunhamos agora!!! Gente, Gabeira trouxe de volta a esperança de um futuro melhor, que andava meio sumida da nossa tão desacreditada política. Eu vi milhares de pessoas com camisas verdes hoje em diversos locais do Rio de Janeiro. Eu mesmo, que passei por um período apolítico em função da minha decepção com o PT, coloquei uma camisa verde e saí de casa prá votar com uma convicção ideológica que há muito não sentia. Isso é uma vitória sem preço: VOLTAR A ACREDITAR NA MUDANÇA!!
Como dizia o mestre, "nem tudo que parece realmente é". Paes conseguiu uma "vitória vergonhosa", daquelas em que a comemoração causa constrangimento ao vencedor. É como se um time ganhasse o jogo decisivo com um gol de mão, com o atacante escandalosamente impedido, com três pênaltis não marcados em favor do adversário e jogando com três jogadores a mais (sendo que os três adversários haviam sido expulsos injustamente nos 15 primeiros minutos do jogo). Senti exatamente isso em 2002, quando o meu Fluminense ganhou roubado do Bangu na semifinal do Campeonato Carioca.
Para finalizar, coloco aqui a credibilidade de jornalista que tenho para dizer que Gabeira enfrentou o poder da mentira, da manipulação, da politicagem das promessas populistas, da sujeira das campanhas e das máquinas eleitorais, mas conseguiu a vitória moral - que não tem preço.

Abraço,

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