Pessoal, fui na casa da minha mãe outro dia e resolvi procurar alguns cd's meus que ainda estavam por lá, mesmo já decorridos quase 3 anos do meu casamento. Ela me disse que as minhas coisas "esquecidas" estavam numa caixa, na prateleira mais alta, do armário mais remoto da residência. Coloquei a escada, subi até o último degrau e retirei a "misteriosa" caixa do armário. Eu queria apenas procurar alguns cd's, mas não sabia o que realmente me esperava. Logo abaixo da tampa da caixa, estava um "cartão de visitas" nada agradável: UMA FOTO MINHA DE CAMISA DO CHE GUEVARA E COM A BANDEIRA DO PT!!!! Levei um susto, imediatamente larguei aquela "caixa de pandora" no chão do quarto e fui - meio tonto - até a cozinha para tomar água. Mesmo assim, não teve jeito, voltei ao quarto para encarar novamente aquela foto, pois queria os meus cd's, mesmo que isso me fizesse ter contato com um passado nefasto. É como afirma aquele ditado: "Só vê a paisagem, quem sobe a montanha".
A foto foi tirada em 1998, durante uma passeata contra a privatização da Vale do Rio Doce. Lembro bem que aquele dia foi pesado. Meu amigo Mário Rubem e eu matamos a aula do pré-vestibular apenas para comparecer à manifestação. A gente se concentrou (junto com mais cinco mil "companheiros") na escadaria da Alerj e, na hora marcada para o leilão na Bolsa de Valores, fomos em passeata até a porta da instituição. Ao chegarmos no local, nos deparamos com o Batalhão de Choque, que havia cercado o prédio para garantir a segurança do leilão. Mário e eu, é claro, fomos para a "linha de frente" encarar os escudos e capacetes, xingar os executivos da bolsa, chamá-los de porcos imundos do sistema capitalista, traidores da pátria, escravos do neoliberalismo. Aos policiais, os insultos foram um pouco mais leves, pois a finalidade era conscientizar os caras. Lembro bem que um "companheiro" ao meu lado - que não devia ter mais de 16 ou 17 anos - disse para o policial: "Companheiro policial, venha para o lado do povo!! O senhor está sendo apenas utilizado pelo monstros do sistema capitalista, mas é povo também".
Com o passar do tempo, os ânimos foram se exaltando e algum "companheiro sem-cérebro" resolveu atirar uma pedra na fachada da Bolsa de Valores. Fudeu! Essa era a senha para a ação dos "companheiros policiais". Teve bala de borracha, bomba de efeito moral, jato d'água, gás de pimenta, gás lacrimogêneo, cães policiais e muitas cacetadas. O que eu sei é que, após a privatização da Vale, Mário e eu estávamos sujos, famintos, repletos de marcas roxas de porrada e, no meu caso, com escoriações nos braços e pernas. Foi aí que alguém, que não me lembro quem, resolveu tirar a foto. Mário e eu levantamos imediatamente do chão sujo onde estávamos sentados, estufamos o peito, empunhamos nossas bandeiras (a minha do PT e a dele de Cuba) e posamos para a foto com uma cara parecida com a do Guevara na minha camisa.
Pois bem, decorridos pouco mais de 10 anos do episódio, eu olho a foto e me pergunto: prá que? Por que matamos aula naquele dia? Por que protestamos contra o leilão de uma empresa que servia apenas de cabide de emprego público? Por que tomamos porrada? Por que eu segurava AQUELA MALDITA BANDEIRA DO PT? Por que eu vestia a camisa com a foto de UM ASSASSINO?! São perguntas que ficarão eternamente sem resposta, justamente porque as pessoas nas quais acreditávamos adotam exatamente as mesmas práticas dos caras a quem nós chamamos de lacaios, traidores da pátria e outros insultos.
Depois de encarar a foto, peguei meus cd's e voltei prá casa. No carro, eu refletia sobre tudo isto. Se algumas perguntas não têm respostas, por outro lado, cheguei a algumas conclusões após analisar o fato. A primeira delas foi a de que, não importa em quem, mas EU ACREDITEI. A segunda foi de que, não importa como, mas EU ACHAVA MESMO QUE ERA POSSÍVEL MUDAR AS COISAS. E a terceira - e talvez mais importante - é que não utilizei grande parte da minha juventude apenas para estudar e me preparar para o mercado de trabalho competitivo, dentro de uma ótica individualista, cada vez mais predominante entre os jovens. EU NÃO ME TRANCAVA NUMA VIDINHA DE "CASA/FACULDADE/NOITADA", MAS ME PREOCUPAVA COM AS PESSOAS, COM O BRASIL, COM O MUNDO. O PT era apenas um referencial, mas o mais importante era que eu acreditava num Brasil melhor.
Hoje, olho para o pessoal das universidades e fico muito triste. Ninguém levanta bandeiras sociais, ninguém pensa no próximo, ninguém quer saber do Brasil. A rapaziada só está querendo estudar, estagiar, trabalhar e ganhar dinheiro. Não os culpo, pois foram educados assim. Mas os utilizo como exemplo para dizer que EU FUI DIFERENTE e sempre serei! O PT me traiu, minhas ideologias políticas e econômicas também mudaram, assim como alguns conceitos também. Hoje, por exemplo, eu jamais condenaria as privatizações, pois elas foram boas para o Brasil. A isso, dá-se o nome de amadurecimento. No entanto, enquanto esse país não tiver educação de qualidade, saúde pública para quem necessita, segurança para nossos filhos, trabalho e salários dignos para quem constrói a nossa nação, direi sempre: A LUTA CONTINUA!!!
Abraços a todos e obrigado pela atenção.
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
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